segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pisando com amor na grande mãe

O homem e a natureza... Um só ser. Desde os tempos mais remotos estamos em conexão profunda. Os ritos mais antigos usavam de símbolos da natureza para louvar, agradecer e conectar. O sol é a cura, a Lua a mãe, as estrelas nos guiam. O chão sagrado transmite amor e calor. As plantam tem a cura, os animais são nosso irmãos.
Hoje andamos perdendo essa conexão, e muitas vezes fazendo até o contrário, quando destruímos a natureza, ou não damos o devido valor ao poder de cura que ela pode ter. Muitos que tem essa conexão com a mãe Gaia, falam disso, levantam essa bandeira, são tratados como loucos... A, se isso é ser louco, sou louca sim!

O post de hoje, vai ser para falar de mais uma de minhas "loucuras". Quero falar de um dia em que a energia indígena foi forte e daquilo que pude trazer e dos ensinamentos dessa vivência.
O sábado começou com o céu azul e uma brisa quentinha, coisa boa aqui pelas bandas de Curitiba. Acordei cedo, arrumei minha mochila e subi na moto com meu pai sentido Bateias, Campo Largo. O caminho estava iluminado, com muitas araucárias brindando a beleza do sul!
Eu já tinha feito esse caminho diversas vezes, porém a noite. Nossa! De dia tudo fica diferente. Parecia outro lugar, e como toda novidade, fiquei olhando cada detalhe.
Nosso destino final era o Céu do Paraná, igreja de Santo Daime. Bom, quanto a experiência junto ao Santo Daime, vou deixar passar um pouco. Não irei fazer muitos relatos. Apenas digo que todos os seres humanos dessa terra deveriam conhecer e ter um momento de experiência junto ao Ayahuasca para se conectar com o seu verdadeiro ser e sentir como a natureza pode ser espetacular.
Após um lindo e forte trabalho de cura no qual a força feminina, no meu caso, foi fortíssima, estava renovada, calma e plena. Saímos do Céu do Paraná, eu e meu pai, com um rumo certo: uma vivência com os índios Fulni-o de Águas Belas Pernambuco.
A vivência foi promovida pela família de nosso colega João Zoccoli do Campo Comprido. O local da vivência era uma áreas verde linda, cavalos, fogueira, muito frio. E lá dentro de uma maloca pouco iluminada estavam eles a nossa espera. Com trajes típicos: cocares espetacularmente lindos, feitos de penas coloridas de aves silvestres, corpos pintados, descalços, adereços por todos o corpo. Um deles trazia pendurado nas suas costas o pelo completo de um animal pendurado em seu cocar.
Sentamos em roda, eles ao centro.
Eles trouxeram diversos artesanatos típicos para venda, como maracas, cocares, filtro dos sonhos e brincos lindos!
Na língua nativa Yatê eles combinavam o que seria feito. O chefe do grupo começou a falar agora em português. Ele começou de maneira bem direta: "vocês sabem o que é a vivência?". Sem pestanejar, um garotinho de seus 6 anos respondeu "é viver". "Muito bem" disse o índio. "Você sabe o que é vivência, mas tem muita gente que não sabe. Tem uns jovens que vão la na Chapada dos Veadeiros fazer vivência com os índios. Ah! Mas eles não sabem o que é vivência. Eles só querem beber álcool e fazer coisa que não tem nada a ver com índio", continuou o índio indignado.
"Vivência mesmo é colocar os pés na Mãe Terra, e se desligar de tudo e viver realmente a nossa cultura, esses ai não fazem vivência. Vivência é dançar, pisar com força na Mãe Terra, é sentir o Grande Espírito, sua força e se conectar com a dança. Respeitar a natureza, usar as medicinas com respeito. Nós vamos cantar aqui na nossa língua, vocês podem não entender no início, mas logo conseguirão saber o que nós estamos dizendo".
Dai começaram o ritual. Eu estava em uma sintonia, uma energia tão intensa que, mesmo no frio que estava, tirei meu tênis e pisei no chão. Eles se viraram e começaram os cantos na língua nativa. Dançavam e cantavam, de uma maneira tão linda. Gritos, assobios, movimentos, reverências. Nunca tinha visto algo igual!
Em uma das danças eles imitavam, com expressão corporal e assobios, os pássaros. De um em um iam na frente do líder e imitavam um pássaro diferente. Que coisa forte!
Eles fizeram uma sequencia de cantos. O líder chamou a todos para acompanhar a dança. Ninguém se prontificou a dançar, meio ressabiados. Mas havia uma garotinha, que devia ter no máximo 1 ano e meio. Ela ia no meio deles e batia os pesinhos no chão no mesmo ritmo deles. Ia no meio mesmo, no centro do ritual, dançava, do jeitinho dela, olhava pra sua mãe e sorria, encantada, se sentindo totalmente a vontade. Em certa altura os índios deram a mão para ela e a levaram para dançar junto com eles. Disse o velho índio "essa ai sabe das suas origens" Ela apenas ria, feliz com tudo aquilo.
Chegou a hora em que o líder nos fez ficar de pé e nos levou para  a roda, era o que eu queria desde o início! Dançamos e cantamos, do jeito que conseguíamos, e a energia estava tão intensa que o próprio índio não queria parar com a roda.
Após esse momento, o calor chegou, todo mundo ficou aquecido e feliz, não só pela dança, mas também pelo amor e pela força dessa antiga tradição da qual todos nós viemos!
Depois do ritual, que ele encerrou com mais uma dança e canto, ele abriu o espaço para perguntas. Diversas pessoas tiraram suas dúvidas. Meu pai, curioso, perguntou sobre as medicinas sagradas como o rapé, ayahuasca, o tabaco entre outras. Disse o índio "todas as ervas são sagradas, até a maconha, que vocês falam, ela é sagrada. Mas temos que saber usar, oferecendo ao grande espírito, pedindo cura e louvando. O homem branco entra na floresta e não dá o valor a ela, não pede licença dai o que que acontece?A cobra pica ele, a planta venenosa faz ele ter coceira. Temos que saber do respeito da natureza".
Quantos ensinamentos! Viva a cultura indígena milenar!
Vamos conectar com a mãe Gaia e ser um "homem branco" diferente, que cuida da mãe terra, que compartilha com seu irmão e deixa a força da cura envolver, sem medo. Pois, se da terra viemos, e a ela voltaremos, que pisemos com força em cima dela, assim como foi indicado, para sentir todo o seu amor.

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