sábado, 12 de setembro de 2015

Seguindo pelo interior de Goiás, coração do Brasil

Estradas de chão de Terra Ronca-GO
Viajeiro que é viajeiro não cria raízes. Logo, mesmo que a experiência em Terra Ronca estivesse sendo maravilhosa, precisávamos seguir viagem.
Para finalizar nossos dias no local, resolvemos ir até a cachoeira Palmeira, que fica na casa da Dona Belmira. Eu já tinha ido lá antes então, fiquei de guia para a galera. Quem me conhece bem lendo  essa frase já achou o erro. Eu? Guiando alguém? Fica bem difícil...
Nesse dia estávamos em dez pessoas,  nossos amigos de Curitiba, alguns agregados e também suas bagagens. A Sacica ficou pequena para tanta gente.

Como já era o esperado, rodamos aqui, rodamos ali e nada da cachoeira. Resolvemo então, parar para perguntar. Não passava ninguém na rua e tinhamos poucas casas, entramos na primeira, na segunda e aos poucos fomos conseguindo nos localizar. A comunicação era bem difícil. Mesmo sendo a mesma língua os jeitos de falar eram tão diferente que parecíamos estranhos uns aos outros. " Pra chegar na cachoeira você segue, segue, segue a vida toda. Dai tem umas casinhas você nem liga, passa reto. Segue, segue, segue. Dai na casa do Seu Sebastião se vira".
Depois de muito perguntar, já quase chegando na Palmeira eis que a Sacica engasga e começa a falhar. Segundo desafio do dia: achar um carro para pedir carga. Esperamos, esperamos e nada. O dia já ia chegando ao fim. Nossa fome estava grande, afinal, ainda não tínhamos almoçado.
Quando vimos uma luz vindo de longe, quase obrigamos o carro a parar. Um casal de meia idade sai do carro, e nos ajudam com a bateria.  Fiquei,nesse meio tempo, jogando conversa fora com a mulher do carro. Conversamos sobre nossas vidas, tao diferentes e em algumas partes parecidas. Nos duas estavamos aprendendo a dirigir. Ela, porém mal tinha saído da região e não conhecia o mar, mas,queria muito ter a oportunidade. O Paraná, meu estado, esse ela conhecia. " Eu já vi a Serra que tem o trem, no programa da Ana Maria Braga. Um dia quero conhecer o Paraná e andar de trem. Quero poder conhecer tudo, assim como vocês".
Primeiro Perrengue
Depois de feita a carga tivemos de dormir mais uma noite na caverna (o que particularmente para nós não foi nenhum problema). Fizemos um jantar muito gostoso com direito a sobremesa de brigadeiro.
Foto tirada por Ednalva que teve mais de 120 likes
Acordamos no outro dia aos poucos, sem pressa. Até por que quando você esta em um grupo de dez pessoas, as coisas vão acontecendo devargar mesmo. Demos um último mergulho nas águas cristalinas da caverna e seguimos viagem.
Ali mesmo na saída da caverna já tivemos que fazer nossa primeira "chupeta" na Sacica. Nossos primeiros amigos do dia além de nos ajudar, ainda nos deram uma caixa de alimentos que sobrará de seus dias em Terra Ronca.
Com a carga,conseguimos seguir mais alguns metros e novamente, a Sacica parava, todo mundo desembarcava e ficávamos esperando até o próximo carro em alguma sombra de jatobá. A cada um que parava, uma nova amizade e troca de ideias. O último uno que nos parou tirou até uma foto que foi postada no facebook da Ednalda que teve mais de 120 likes. Só alegria.
Seu Goiás, Seu Domingos
Depois de fazer 50km em tempo que se poderia fazer 120km chegamos novamente a São Domingos. Na cidade seguimos direto para o hospital. Um estava com diarréia,o outro com dor de ouvido, o outro tinha de tomar vacina para seguir para o norte do país. É... ser viajeiro tem seus momento difíceis também.
Depois da sessão médico, mesmo o hospital sendo bem estruturado, o que nós mais queríamos era um lugar gostoso para descançar. E eis que um nativo nos oferece sua casa, na beira do lago da cidade, conhecido como prainha, para ficarmos quantos dias quisermos.
A casa era bem espaçosa, de frente para o lago. Vista bonita demais! Nos coqueiros, cocos verdes prontos para serem colhidos.
Bão demais!!! Como diria o pessoal de lá.
Cavalgada da fé em direção a Terra Ronca-GO
Conhecendo o diferente
São Domingos é uma cidade do interior, pacata, que tem cavalos nas ruas, sertanejão rolando, gente simples e muito calor. Muito mesmo!
Nos dias e que estivemos lá, por sorte, eram os dias da festa do padroeiro que dá nome a cidade. Quatro dias de festa e, no último dia, a cavalgada da fé até a caverna em que estávamos (o nome não podia ser melhor, pois só com muita fé mesmo para seguir 50 km a cavalo no sol até lá).
A ocasião não podia ser melhor para os inúmeros artesãos de rua. Com o movimento gerado pelas festividades tínhamos um bom lugar para expor os nossos artesanatos.
Mas, mais atenção do que chamavam os artesanatos, chamávamos nós. Era engraçado de ver a cara do pessoal da cidade olhando para nós. Parecíamos saídos de um filme dos anos 60 ou algo assim. Muitos achávamos que éramos estrangeiros.Era até divertido andar na rua.
Como o ENCA foi próximo a cidade, muitos viajeiros como nós passaram ali e isso, acredito, foi uma diversão total para eles. Para nós, diversão era ouvir as músicas que faziam sucesso entre o pessoal.
As mulheres lavam suas roupas no rio
Eles abriam seus carros, que tinham um som tão potente, que , para conversar, só com mímicas, e bebiam suas cervejas ao som das lamurias de amor dos sertanejos. Depois de passar dias no silencio da mãe natureza, o jeito era se divertir também e dar risada.
A festa era bem interiorana e isso, por mais simples que fosse, chamou muito minha atenção. Tiro ao alvo, pescaria e touro elétrico faziam a alegria da criançada. Os jovens se arrumavam e andavam procurando alguém para paquerar.
Durante o dia, no lago central, as mulheres e senhoras levavam suas troxas de roupa para lavar a mão nas águas lindas do local.
Todos hermanos
A notícia da casa na beira do rio correu rapido pelos ouvidos dos viajeiros então,poucos dias depois de nossa chegada, foram chegando mais e mais agregados.
Por incrivel que pareça, a maioria dos viajeiros,  principalmente os malabaristas,  são estrangeiros.  Isso é uma viajem por que você escuta diversas línguas e convive com todo o tipo de culturas. A grande maioria da América do sul, argentinos e chilenos principalmente,  mas conhecemos franceses,  alemães, italianos e espanhois também. Diversos costumes,  culinarias e histórias para compartilhar.
Viajeiros de todas as partes
Adios muchachos
Depois de quase dez dias juntos tivemos que partir. Pela manhã,  sem falar nada, apenas deixando um bilhete carinhosos Vini foi para
a BR. Logo Gabriel e sua companheira, depois Burucutu e Larissa e depois nos da Sacica fomos caindo na estrada novamente.
Ia sentir saudades daqueles malucos. Porém  o abraço de despedida é apenas um até logo pois a família da estrada sempre se encontra.

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