sábado, 24 de outubro de 2015

(RE) Começar a viajem

Gigi e Marcelo- Brasília/DF
Depois de rodarmos mais de 5 mil km, três meses de viagem, cinco estados, com a Sacica, retornamos ao sul depois de dias de muito esforço em Brasília. Os dias na capital do Brasil foram massantes, duros, quentes. Fazíamos horas e horas de malabares no sinal todos os dias.
Tínhamos uma meta financeira a fechar. E assim, a nossa paixão, ia, aos poucos, virando uma obrigação, daquelas bem chatas. Então, depois de muito ralar, juntamos a grana necessária e nos jogamos para o sul. 
Claro, que além de ficar trabalhando também curtimos a capital federal e pegamos a nova integrante da Trupe Sacica. Ela... nada mais nada menos que ela... a nossa equilibrista Gigi. 
Explico: em Brasília existe um cara muito gente boa, o Silvio que é o único do país que fabrica, artesanalmente, monociclos girafas. Nós encomendamos um com ele e demos o nome de Gigi. Ela é a nova viajante do grupo! Além dela conhecemos essa pessoa especial que nos desafiou na comunicação.
Isso por que ele é mudo, e, além disso, ele é casado com uma muda. Ou seja, o dia que fomos em sua casa em Taguatinga, tínhamos que conversar como duas pessoas por sinais e por olhares. Foi uma experiência muito legal, que desafiou nossas habilidades.


A cidade que João de Santo Cristo ganhava cem mil por mês

Deixamos Brasília, um tanto quanto aliviados. Nossa primeira noite foi em Taquatinga, no meio da babylon, num posto em que, nas redondezas, segundo a gerente "era muito, muito perigoso". 
Para quem é fã de Legião Urbana como eu, deve se lembrar que era lá que  Santo Cristo ganhava cem mil por mês.
Só ele mesmo que se deu bem por lá, pois, os taquatinenses que me perdoem, mas gente, que cidade caótica! Foi um dos lugares mais loucos que eu conheci até hoje. Eu achava que Cidade Del Leste, no Paraguai, tinha sido a loucura do comércio ambulante, mas eu estava enganada.
Para completar: passamos o dia do meu aniversário na cidade, ou seja, não foi nada daquilo que esperava no dia de festejar minhas 23 primaveras.
Olha as mesinhas tripés ai. Loja da Sacica/Festival Terra Azul
Nossa missão lá era arranjar uma dessas mesinhas de muambeiros, chamadas tripés. Existia alguém que vendia essa mesa lá. Esse alguém existia, mas ninguém sabia muito bem aonde. Nos mandaram ir em um mercadão. Chegamos lá os bombeiros tinham fechado no mesmo dia o local. Dai nos mandaram no Feirão dos Importados. Chegando lá, um mandava aqui, o outro ali, um dizia "é do lado de um coqueiro que tem umas meias para vender", andamos aqui, andamos ali, andamos tanto, que acabamos nos perdendo. Marcelo foi para lá, eu e Ana para cá. Dai chegou a hora que encontramos dois rapazes que sabiam da tal pessoa. Eles nos chamaram num beco estranho, nós meio cabreiras confiamos e fomos, chegando lá, Marcelo nos esperava na porta junto com um senhor.
Ele foi logo dizendo;
-Vão querer o que?- nem oi nem nada. 
- Quais medidas você tem?-  perguntamos.
Parabéns pra mim!- Gama/DF
- 2m e 1,5m- respondeu, seco.
Começamos a pensar, pois a mesa não era barata e tínhamos que ver nossas necessidades.
-E ai vão querer ou não?- perguntou, sem paciência.
-Calma, estamos pensando!- respondemos.
-Aqui não tem pensar não "fía", é pegar ou largar!- respondeu ele, guardando os tripés.
Juro! Juro que se não fosse tão difícil achar essa mesinha, se não tivéssemos andando tanto naquele calor, juro que iria virar as costas. Mas, com a paciência que Deus me deu, escolhemos as mesas e fomos embora. 
Terminamos o nosso dia em Gama, outra cidade satélite de Brasília. Dai sim demos valor! Cidade calma, com pista de skate, sorveteria barata (sim, ganhei um sorvete de aniversário) e o melhor: pizza por 12 reais! E assim terminamos nosso 21 de agosto, data de meu aniversário, comendo pizza quadrada, com direito a velinha e tudo.




Dias que viraram meses  

Espetáculo de fogo "A Floresta Encantada"- Festival Terra Azul (Mushpics)
Nossa primeira parada nos lados de cá foi em Paranaguá, cidade na qual mora meu pai. Depois de estarmos em lugares totalmente desconhecidos durante três meses, estávamos de novo, nos lugares onde conhecíamos como a palma de nossas mãos. Tínhamos como compromisso na cidade, além de  matar as saudades do pai, fazer nossos passaportes.
Estar esses dias com ele foi realmente muito bom. Meu pai também já foi muito viajeiro, conhece vários estados, países e já viajou muito (não é atoa esse nosso gosto pela vida nômade). Conversar com quem sabe das coisas é outra história. 
Depois de Paranaguá, fomos rumo a capital do Paraná. Admito que não estava com saudades, por aqui, sempre tudo igual. O que animava, era rever minha família e amigos, desses eu estava com saudades!
Viemos para nossos compromissos com o passaporte e a nossa performance e oficinas no Festival Terra Azul, em Santa Catarina, e já iríamos retornar.Os dias que iríamos passar aqui, se tornaram quase dois meses. Que loucura.
Saia duende da Sacica
"Já que estamos aqui, vamos costurar umas roupas". E lá fomos nós colocar a mão na massa. Fizemos saias, calças, camisetas, regatas, vish, é roupa que não acaba mais (sinceramente ainda não sei como vamos fazer isso tudo caber na Sacica).
Depois de tudo costurado, tingido, fotografado (aliás, quem quiser ver nossas roupas, que são lindas, acessa a nossa fanpage- só clicar aqui) estávamos prontos para se jogar.
Espetáculo "Os Saltimbancos"- Esc. Mun. Mário Flores
Dai, em um dia abençoado, depois de oficinas circenses e espetáculos que realizamos na Associação Brasileira de Âmparo a Infância (ABAI) em Mandirituba, nosso grande amigo Heráclio nos deu a ideia de fazermos apresentações nas escolas. "Como não pensamos nisso antes!?".
Dai, começamos o segundo round de correria, faz projeto, envia projeto, vai nas escolas e dai estávamos com mais duas semanas e meia de compromisso. Graças a Deus, a ideia deu super certo e então, tínhamos a possibilidade de fazer aquilo que amamos, que é estar em cena encantando e fazendo rir e também poderíamos custear uma revisão daquelas e ainda uns diazinhos de gasosa para a viagem. Viva a lei natural dos encontros!


 RE começar, RE fazer, RE pensar

Bora fazer tudo caber no mochilão. Minhas trouxas dos
próximos meses.
Agora estamos nós aqui, REfazendo as malas, REarrumando a Sacica, REajustando as ideias. O bom, é que agora estamos cada vez mais certo que que queremos, mais certos que tudo dá certo, mais certos que a bondade existe na estrada e é maioria!
Roteiro já temos, pelo menos até o carnaval: litoral de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e depois Pernambuco. Depois, temos todo o nordeste e norte para desbravar sem pressa, sem data marcada.
Vamos que vamos, retornar aos desafio diários, retornar ao desconhecido, retornar aos lugares lindos, as pessoas novas.
A estrada vicia, cuidado! (mentira, cuidado nada, se joga!)
Continuem com a gente acompanhando, comentando, ajudando.
Vem!


Nenhum comentário:

Postar um comentário