terça-feira, 14 de julho de 2015

Vivência de vida alternativa diretamente do Paraíso

Partimos de Ribeirão Preto, São Paulo, direto para Brasília, Distrito Federal, com o objetivo de fazer a verba necessária para a estadia de dois meses pela Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Em dois dias saímos de SP, dormimos em GO e finalizamos o dia no DF. Três estados em dois dias.
Chegamos a Brasília no final do dia após curtimos uma tarde de sol em Cristalina, a cidade dos cristais. Lá, além de lojas e mais lojas de cristais, no rio dos Arrojados, no qual tomamos um banho delicioso, a quantidade de cristais no meio da água e no chão, era impressionante.
A chegada em Brasília mudou o astral de natureza e paz, quando no horário de pico carros e mais carros faziam engarrafamentos pelas ruas. Mesmo assim estávamos ansiosos por conhecer a capital federal.

A semana que ficamos no local foi intensa, de trabalho e planejamentos. No entanto, por meio de nossas intervenções circenses pelas ruas de Brasília com cor e alegria, conseguimos arrancar sorrisos da corrida rotina dos “poderosos” “ricos” que passam com seus carros de luxo e também de todos os motoristas que conhecemos nesse meio tempo.
 Nessa estadia também participamos da festa de rua Bekos, com nossa loja. O  evento reuniu toda a comunidade com  pessoas de todas as faixas etárias nas ruas da Vila Planalto para fazer música, gastronomia e arte.

Cultural alternativa, natureza e bem estar

Nosso compromisso inicial na Chapada dos Veadeiros, mais especificamente em Moinho, Alto Paraíso de Goiás foi com o Festival Internacional de Culturas Alternativas (FICA). Por meio do envio da nossa proposta que conta com intervenções de pirofagia¹ e oficinas de arteterapia (produção de mandalas de fio Ojos de Dios) e circo (produção de técnicas de malabares e acrobacias em dupla). O evento veio ao nosso encontro por meio de João Paulo responsável pela avaliação dos projetos enviados e pela programação do evento.
Por meio do blog do Flor de Ouro- Vida Natural e Holística podemos conhecer mais acerca do movimento que prega a vida natural em conexão intensa com a natureza. No local os moradores vivem a 30 anos preservando a fauna e flora local, vivendo em conexão com a natureza. Lá criaram raízes e criaram seus filhos.
Moinho,13 km do centro, lugar silencioso e pacato foi onde ocorreu essa celebração de dez dias.  O local do evento, espaço Flor de Ouro, é um chamado em cada pedacinho que o compõe para essa conexão com o divino que o movimento propõe. Segundo o blog o movimento quer “liberdade, rejeitando valores estabelecidos, sem consumismo, dependendo mais da terra, porque desde então, sabíam que o sistema é muito forte, e ao mesmo tempo muito frágil, podendo mesmo quebrar, de repente.”
Helen e Toni são os desbravadores do local que, nos anos 60 chegaram ao local procurando uma vida longe da caótica babylonia² podendo assim viver de forma natural e em conexão com o divino por meio da natureza. Desde então, o local foi desbravado e organizado, sendo além da morada da linda família um local de cura. Hoje, além do FICA, acontecem diversas atividades como hospedagem em meio a natureza, sauna a vapor coletiva, banho de imersão com ervas, massagens entre diversas atividades.
Nos dirigimos ao local ansiosos por tudo que nos esperava, a estrada de chão era pura adrenalina, sem contar com o cenário encantador com araras, tucanos e colibris voando no céu . As montanhas em volta da cidade fazem com que cada olhar pareça um quadro vivo. Que grande benção poder desfrutar de tal momento.
Fomos recebidos por João e Marcelo, que sempre sorridentes, nos receberam cheios de alegria. Na recepção, recebemos mais algumas informações e conhecemos o mapa do espaço. Tenda de cura, tenda da lua, tenda do sol templos e o templinho das crianças compõe do cenário.
Passamos pela ponte e caminhamos nada mais que um minuto quando cruzamos o portal energético que separa o resto do mundo da Flor de Ouro. Diversas pessoas já estavam no local com suas barracas, realizando atividades. Passamos em frente ao palco, e seguimos em direção ao camping por uma trilha magnífica. O som dos pássaros, o céu azul e o calor faziam o ambiente ainda mais agradável.
Depois de 15 dias dormindo na Combi Sacica estávamos ansiosos por acampar. Só quem curte acampar sabe o quanto é gostoso montar sua barraca junto a natureza podendo desfrutar de silencio e de um céu estrelado.
Enquanto eu e Marcelo montávamos nossa barraca, e Victor e Ana as suas, escutávamos o chamado vindo da cozinha comunitária, “vem pra roda!”, gritavam em coro. Como estávamos famintos a ideia não pareceu nada má.
A roda é feita antes do desjejum e do almoço. O momento ocorre para que todos se unam e agradeçam o alimento ali ofertado que nutre o corpo e a alma. De mãos dadas entoamos mantras e orações além de praticarmos respirações. Após a refeição todos lavam os objetos que fizeram uso e também os de uso coletivo.  Cada um fazendo um pouco, logo tínhamos um ambiente novamente organizado.
O evento não contou com uma quantidade exagerada de pessoas, assim podíamos conectar com cada um de maneira intensa. Ali naquele primeiro contato já recebemos muitos sorrisos e muita interação pela parte de todos. Como era o dia de nossa apresentação de fogo, ficamos ainda mais ansiosos por poder levar um lindo momento a todas as pessoas presentes.
A noite foi caindo e o espetáculo da mãe natureza começou. O céu pipocou de estrelas, incontáveis delas. Ao fundo do céu a poeira cósmica fazia a imagem ainda mais bonita. Vênus e Júpiter estavam já se afastando no céu depois de dias bem próximos. Para fechar, a Lua Cheia brilhava intensamente, bem amarelinha quando nascia. Não podíamos deixar de parar para ver esse presente que vinha dos céus.
Momentos depois, viramos fadas e duendes e entramos em cena com o espetáculo de fogo “A Floresta Encantada”. Junto com o uso de cristais de poder e velas, que compões o nosso cenário, entramos em cena para brincar com o fogo por meio dos malabares e expressão corporal.
A noite terminou com um Côco de primeira seguido por um Maracatu. O grupo de Brasília fez o pessoal dançar com animação e gingado. Em volta da fogueira o clima era de união e alegria.

Universo Holístico, místico e ancestral

Grande parte das atividades do FICA, diria quase todas elas, estão em torno da cura pessoal. Por meio de medicinas, rituais e práticas ancestrais de cura e autoconhecimento o movimento faz com todos aqueles que entram em contato com as atividades propostas pudessem se tornar diferentes e mais equilibrados, isso na esfera do corpo, mente e espírito.
Comer se torna um ritual desde o momento de escolher aquilo que se ingere quando “somos aquilo que digerimos”, no momento de fazê-la, realizando a alquimia da cozinha emanando amor e carinho, até o momento de degustar.
Na tenda da lua, todos os dias, as meninas, mulheres e anciãs se reuniam a beira do rio em volta da fogueira para cantar para a deusa, realizar rodas de conversa e ciclos de medicinas das mulheres. Momentos fortes em que cada uma podia se abrir e se conectar com sua loba interior, cantando, dançando e trocando conhecimento.
Na área da tenda de cura podíamos conhecer pinturas e medicinas indígenas, participar da sauna e também tomar um banho de rio no qual trás as águas das montanhas do Cerrado para todos poderem se refrescar e relaxar.
Seguindo pelas outras trilhas do espaço, chegávamos ao encontro dos rios. Mais a frente, podíamos nadar no Poço Azul com suas águas coloridas. No local, se esperássemos alguns minutos podíamos nos defrontar com o voo barulhento das araras.
Crianças e adultos, homens e mulheres conectados em prol da boa convivência, da cura e dos aprendizados que cada um pode oferecer.

Cuidando e desfrutando com respeito da Natureza

A música da banda de reggae paranaense Gaia Pia (o qual, mesmo em Goiás estava tocando quase todo dia, uma benção para os paranaenses que amam as músicas locais) fala que “ as águas caem de graça vindas da cachoeira”. Assim é a vida no FICA.
Vinda das nascente, lá no meio do morro, a água cristalina vem dos rios e abastece com água potável, pura e energizada todas as torneiras do local. Como diria o senhor Fidélis, paraibano que mora a mais de 20 anos em GO “aqui a gente morre afogado mas nunca de sede”.
A água em abundância vem pelos rios e cachoeiras aos montes. Mesmo na época de seca que vai de abril até setembro onde sem chuva, a água nunca acaba, pelo contrário é farta para todos.
Para cuidar e aproveitar a terra o lixo orgânico é todo separado e colocado nas composteiras do Flor de Ouro. Os banheiros secos, que são cerca de dez, também servirão de composto para a terra.
Chamada de vida alternativa, o modo de vida proposto no FICA não é nada mais nada menos daquilo que foi esquecido, daquilo que foi vivido por nossos ancestrais que respeitavam e amavam a Mãe Terra sabendo que ela e nós somos todos um. Não existe a Natureza separada dos homens e mulheres, separada dos animais todos somos natureza, todos somos naturais. Cuidar dela é cuidar de si.
Em tempos onde a ganância, stress, vida sedentária, remédios e falta de auto conhecimento estão em alta, essa vida, mais normal do mundo, é chamada de alternativa ou de diferente. Espero que todos nós possamos logo desfrutar da vida alternativa todos os dias, nas grandes cidades, no interior em qualquer lugar e que todos possam desfrutar de momentos tão plenos de amor como foram os dias de FICA.

Para não citar nomes e fazer ao invés de um texto um livro, vou fazer um agradecimento final

Gratidão ao Toni e a Helen por abrir sua casa para nós e acreditar em nosso trabalho que também é feito com muito amor e dedicação
Gratidão ao João Paulo que recebeu nosso projeto escrito nos ajudando com informações, conselhos e palavras lindas
Gratidão ao Baba por seus ensinamentos culinários. Seus ensinamentos sobre alimentação saudável. Seus ensinamentos sobre o poder da palavra e dos pensamentos. Seus ensinamentos sobre como viver o presente com calma, amor e gratidão.
Gratidão as meninas do Sagrado Feminino que me fazem conhecer meu ser e saber me amar e me respeitar.
Gratidão ao pessoal da tenda de Cura.
Gratidão ao Colombiano Eduardo que sempre deixava tudo bem organizado no palco, nos ajudando com a sonoplastia para o espetáculo.
Gratidão a Ilze, Ale e Babá pelos alimentos espetaculares que fizeram na cozinha comunitária.
Gratidão a todos aqueles que em algum momento estiveram juntos de nós passando conhecimento intenso em diversas áreas e que também elogiaram nosso trabalho nos fazendo seguir adiante com entusiasmo e confiança. Esses vieram de São Paulo, Ceará, Paraná, Rio de Janeiro, Chile, EUA, Colômbia, Bahia, enfim, todos os lugares do mundo.

BABA NAM KEVALAM (Tudo é amor).

¹- Pirofagia é a arte de brincar com o fogo por meio de danças, malabares e diversas manifestações.
²- Babylonia na gíria atual quer dizer o local em que o sistema capitalista, sem escrúpulos, está imperando. Uma vida longe da calma, da natureza, do respeito ao próximo e do equilíbrio.

MAIS FOTOS:


Oficina de mandalas de fio Ojos de Dios

Nossa Loja- Sacica- Arte Livre 

Viva os malabares 

Oficina de produção e iniciação de malabares

Oficina de produção e iniciação de malabares

Oficina de acrobacia em dupla

Oficina de acrobacia em dupla

Flor de Ouro


Ritual da Deusa

Viva o Sagrado Feminino





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