quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Natal sem família


Chegamos a casa de Felipe na madrugada do dia 24. O primeiro a nos recepcionar foi Thor, um pinther cheio de energia. Logo após, a mãe de Felipe acordou para nos conhecer. Nos apresentamos e ela nos deixou a vontade.
- Sintam-se em casa. O banheiro é ali ao final do corredor. Tem esse sofá para vocês dormirem. Eu vou pra cama dormir pois já é tarde, amanha nos falamos. Boa noite.
Fomos desfazendo um pouco das malas. Nós três estávamos num estado de semi intorpecência. Nós mesmos estávamos nos considerando loucos naquele momento. Estávamos em uma cidade desconhecida, com uma família quase desconhecida. Mas como não poderia deixar de ser, fomos acolhidos por uma família pra lá de gente fina. Enquanto arrumávamos nossa cama, Thor chegou arrastando um pano com a boca, que carregava por todo lado. Queria dormir conosco na sala. Todos nós pegamos no sono facilmente.
No dia seguinte, fui a primeira a acordar. Sem saber o que fazer, peguei meu livro e comecei a ler, na cama mesmo. Aos poucos fui escutando uma movimentação na cozinha, mas continuei em meu canto esperando meus companheiros acordarem.
Logo, a mãe de Felipe percebeu que estava acordada e veio puxar papo. Chegou dando bom dia e novamente dizendo que era para ficarmos a vontade. Com o bate papo Fábio foi acordando e logo mais Victor. Felipe tinha saído para organizar mais algumas coisas da viagem. Fomos então, aos poucos, nos levantando, tomando banho e sentando a mesa para comer. Conversa vai, conversa vem, aos poucos íamos nos sentindo cada vez mais a vontade. 
Durante o dia a mãe de Felipe, recebeu a visita de algumas de suas irmãs. Ao todo são oito irmãs e mais três irmãos. Uma família grande. Uma família de gente boníssima. Cada uma que chegava, vinha se apresentar e principalmente conhecer os três viajantes que iriam acompanhar o sobrinho delas na viagem. Nos demos muito bem com todas elas.
Juntos aos preparativos de embalagens dos presentes e escolhas das roupas que seriam usadas na noite natalina, a mãe de Felipe, como qualquer outra mãe de vegetarianos, deu um jeitinho de fazer com que a ceia de natal pudesse ser comida por seu filho “natureba”. Qual não foi a surpresa quando ela descobriu que eu e Fábio também éramos do grupo dos “natureba”. Com todo carinho ela preparou um strogonoff de soja e champignon, com um arroz branquinho e delicioso para comermos a noite.
O dia foi passando calmo e aconchegante, mesmo ansiosos para cair na estrada novamente, nos sentíamos em casa e não tínhamos presa de ir embora. Demos uma volta por Jundiaí, cidade simples, porém bela, com bastante natureza aos arredores. 

Lá pelas 20 hrs começaram os preparativos finais para a ceia de natal. A comemoração ia ocorrer na casa de uma das tantas tias que Felipe tinha. Nós iriamos junto. 
A residência não era muito distante. Estacionamos o carro do outro lado da rua e entramos na casa. Na porta duas lindas menininhas, que não deviam ter mais que seus oito anos, esperavam os convidados. Quando chegamos elas deram um oi caloroso para Felipe e um oi meio desconfiado, porém muito educado aos três viajantes que lá chegavam.
A confraternização ocorreu numa área grande, com uma mesa cheia de lugares e o indispensável pinheirinho de natal, que a cada convidado que chegava, ficava mais lotado de presentes. Fomos nos apresentando a cada membro da família. Todos estavam arrumados e perfumados. Animados para a noite de natal.
Pouco depois que chegamos, deram início ao amigo secreto. Nos três, pegamos nossas cadeiras e sentamos ao fundo da sala, para apenas observar. Podemos dizer, todos nós, que esse foi um dos natais mais interessantes e curiosos de nossas vidas. Fomos adotados por aquele grupo e ficamos ali, observando, como uma plateia que assiste a um espetáculo. O desenrolar da peça, nos já conhecíamos de longos natais. A união da noite de natal, a ansiedade das crianças em abrir os presentes, fotos e flashs. Famílias, como diz o ditado, são todas iguais, só mudam de endereço. Porém, mesmo assim cada ação, cada detalhe e palavra daquela grande família nos cativava e nos arrancava diversos sorrisos junto a um olhar de gratidão. 
Felipe iniciou o amigo secreto. Assim, um por um foi revelando quem tinha tirado.
- Minha amiga secreta é meio sistemática demais...
- Meu amigo secreto é novo na família, mas já consideramos ele muito...
- Minha amiga secreta é meio barraqueira...
Cada revelação era só gargalhada. Quando o presente era “chique” todos gritavam em coro: “Perua! Perua!” Quando o amigo secreto era muito próximo de quem tirou, ou ganhava um presente muito bom o grito era: “Marmelada! Marmelada!”E assim foi indo, um por um revelando seu sorteado. 
A meia noite, todos se abraçaram desejando Feliz Natal. Fomos recebendo de cada membro da família, um caloroso abraço e desejos de paz e felicidade. Por fim, o momento mais tradicional da noite, a ceia de natal.
Eu, Fábio e Felipe nos dirigimos a panela reservada aos vegetarianos (que por sinal estava uma delicia). Quando os tios e tias perceberam que não era apenas o Felipe que não comia carne, começaram as piadinhas. 
- Quer dizer que vocês também são “natureba”?- perguntava um dos tios em tom de brincadeira.
- Eles são, eu não – dizia Victor.
- Então você é inteligente rapaz, onde já se viu não comer carne?! Venha aqui comer um pedaço de peru então.
E assim foi a noite. Animada, calorosa e cheia de diversão.
Terminada a comilança, nos retiramos, pois no outro dia partiríamos cedo. Demos adeus a todos e agradecemos, de todo coração, pela acolhida. Foi um momento inesquecível.
Na saída alguns parentes estavam do outro lado da rua, na casa de outros conhecidos. Fomos lá nos despedir deles, que nos deram diversos conselhos. 
-Vão com calma.
-Cuidado com a estrada.
- Comam direito.
- Não deixem o Felipe sozinho no volante, revessem no sono.
E assim vai. Escutamos tudo com o maior carinho e prometemos seguir a risca as recomendações.
Mas, como não poderia deixar de ser, sempre tem aquele que exagera demais na bebida. De dentro da residência sai o sujeito, alegre que só. Um sorriso fácil de quem já perdeu as contas das latinhas que bebeu, a que se encontrava em sua mão estava prestes a acabar. Ele já chegou chegando:
- Vai com calma que nada meninos. Metam o pé mesmo. – dizia o sujeito, gargalhando a cada palavra. - Eu corro mesmo! Já atropelei até um cavalo. Vocês já atropelaram um cavalo a 170 km/hr?
Sem saber o que responder, demos risada e fomos para casa dormir para, no dia seguinte, partir para Bahia.
Quando nos preparávamos para deitar o telefone de Fábio apita. Era uma mensagem de Camilo, nosso grande amigo de Curitiba, que atualmente mora em Brasília. Ele também foi ao festival na mesma saga que a nossa, de carona. Na noite de natal, a magia que rolou foi tão forte que fez com que todos nós tivéssemos uma bela acolhida para participar. 
Estava escrito na mensagem “ae rapaziada ganhamos carona e pra completar uma ceia de natal!”
É demais dizer que o universo conspira ao nosso favor?

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