terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Retorno e banheiro da discórdia

O domingo começou a nós já estávamos acordados nas cadeiras da rodoviária de Ilhéus. O guichê da empresa que fazia o serviço para Curitiba abriria logo mais as 7 hrs.
Estavamos famintos. Passamos na lanchonete da rodoviária. Nada sem carne. Porém nos informaram que ali na esquina tinha um local que vendia pão e queijo. O local era um simples armazém. Lá, compramos pão, queijo e algo para beber. Ele nos forneceu pratos e talheres. Um café da manha digno demais na nossa situação.

Depois de comermos voltamos ao guichê. Ficamos na fila, na ansiedade de saber o horário que embarcaríamos. Porém, logo acabou a nossa alegria quando descobrimos que o ônibus para Curitiba só saia as terças-feiras.

Ok. Então iríamos para São Paulo e de lá para Curitiba. Na mesma empresa que estávamos o ônibus para São Paulo estava R$ 297,00. Não tínhamos dinheiro para tudo isso. Fomos na outra empresa, a Novo Horizonte ( caro leitor, guarde esse nome para não viajar com eles, continue a ler e entenderá o por que) o valor caia para R$200.00. Eba! É nesse mesmo que vamos!
O próximo ônibus sairia em 15 minutos. Compramos umas coisas parar comermos na viagem e partimos. Algumas famílias se despediam aos prantos com abraços demorados de quem irá se demorar muito para se ver novamente.
Como fomos os últimos a comprar as passagens nos sobraram os acentos ao lado do banheiro. Fomos lá sentar. Os acentos estavam sujos e o banheiro estava com um leve mau cheiro. Lá vem zica...
A nossa frente sentou-se um casal com seus dois filhinhos e uma filha mais velha que sentou a frente. Eles nos cumprimentaram. Suas crianças interagiam conosco. Não demoramos para dormir. Não tínhamos dormido a noite direito e estávamos moídos.
Menos de 40 minutos depois paramos.  Quando acordamos, sentimos o mau cheiro do banheiro, estava cada vez pior. Na parada aproveitei para comprar umas águas e ir ao banheiro, já que o nosso estava insuportável.
No retorno ao ônibus, começamos a conversar sobre o mau cheiro. A mãe das crianças, dona Cris, disse que o banheiro estava sem água e a tampa que fecha a descarga do banheiro estava estragada.
- Um absurdo isso, pagamos caro. Estou com crianças. A!Eu estou indignada dizia ela.
- Eu vou reclamar quando o motorista voltar- falava Débora, a filha mais velha que devia ter seus 14 anos.
Não deu outra, ao entrar no ônibus fomos reclamar com o motorista. Como poderia viajar mais 20 horas com aquele fedor? Ele porém disse que não tinha nada de errado, e o ônibus funcionava perfeitamente. Claro! Na cabine dele não tinha cheio nenhum, mas para nós...
Levamos ele até o banheiro para conferir a normalidade do local. Ele disse que iria parar numa cidade próxima para fazer a limpeza. O que ele não entendeu é que fazer a limpeza e continuar sem água, daria na mesma.
Ele pouco ligou e fomos nós até a tal cidade. Só chegamos lá quase noite. Paramos numa sede da própria empresa no qual ocorria a limpeza dos veículos. Outros ônibus , vindos de outras cidades estavam lá sendo limpos.
Um outro sujeito, que se encontrava no mesmo ônibus que nós, veio interagir.
-Eu vi que vocês reclamaram do ônibus. Tem que reclamar mesmo, e eu vou ajudar.
O banheiro da discordia
Chamamos o motorista e explicamos, em grupo, que a tampa que contém o mau cheiro do vaso sanitário estava quebrado e além disso estávamos sem água. Precisamos de um outro carro, ou então uma outra maneira de manter o mau cheiro.
Ele disse que nada podia fazer, deu risada e ficou olhando para nossa cara com desdém.
-Isso não é engraçado não meu camarada. Tem criança e família lá trás, no mau cheiro. E independente disso pagamos R$200,00 pelo serviço ok? Temos direito a um bom serviço- disse Victor com impaciência.
Fomos atrás do gerente. Débora, a mocinha determinada e querida, achava o maior barato aquilo tudo. Que desde cedo aprenda a lutar pelos direitos. O gerente nos atendeu, tive a ideia de jogar uma cartada. Explicamos o porém e ao fim falei:
- Olha está insuportável viajar dessa maneira. Sou de Curitiba e sou formada em jornalismo. Tenho um blog muito famoso por lá (essa parte exagerei, mas foi só para fazer uma pressão) e vou escrever sobre sua empresa lá.
A feição do homem mudou de “deixa para lá” para “caraca, será mesmo?”.
- Não precisa disso também ne moça?- disse ele meio confuso- Vou deixar desinfetante lá em cima, quem for no banheiro joga e vou pedir para o moço limpar mais uma vez o local. É que esse ônibus quebrou hoje mesmo.
Fez aquilo que ele tinha dito e logo mais partimos. Dois ônibus partiram ao mesmao tempo. Foi quando um passageiro do outro ônibus saiu na janela e disse:
-Ta fedendo ai também?
- Sim!- respondemos em coro e caímos na gargalhada. Vamos rir para não chorar.
Os burburinhos no ônibus eram grandes. Mas pelo menos o cheiro até que estava  bom.  O início da noite trouxe uma fome. E assim, a família em nossa frente começou a comer.
Eles traziam consigo uma mala de viagem, recheada de comida. Tinha de tudo. De tutu de feijão a tapioca. Bolo de chocolate a salgadinho. Guaraná e todinho. Sharon e Willian, os dois caçulinhas, de no máximo 5 anos, comiam cheios de fome.
- Minha mãe sempre exagera. Vi ela cozinhando ontem mais pensei que era pra janta. Que nada, fez macarrão, tutu, tapioca, bolo, arroz e farofa pra gente trazer. Vocês tratem de comer com a gente- disse Cris.
Quem conhece a mim e meu irmão sabe que não rejeitamos uma boquinha, ainda mais que estávamos com fome e sem grana. Comemos um pouquinho de tudo. E olha que não parava de sair comida daquela bolsa!
 Dormimos, todos nós, mais aliviados pelo término do mau cheiro. Tínhamos mais algumas horas de viagem até São Paulo e queríamos relaxar.

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