quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Primeira carona

Na sexta feira anterior a nossa partida, dia 20 de dezembro, meu irmão decidiu, de última hora, nos acompanhar na viajem. Como já tínhamos carona certa e estava sobrando lugar, estava tudo fluindo para que ele fosse junto.  A dupla de viajantes virava agora um trio. 
No domingo, 22, fomos dormir na casa do Fábio para ajeitar os últimos detalhes e também para podermos ter acesso mais fácil ao terminal do Guadalupe, também no centro. Nosso intuito era ir até o posto Cupim I que fica na BR 116 e de lá conseguir uma carona para São Paulo.
Chegamos no início da noite no apartamento do Fábio a ansiedade era evidente no rosto de todos nos e as horas demoraram para passar. Fomos dormir já tarde e acordamos as 4 hrs da manha. Colocamos as malas nas costas e saímos, ainda no escuro, rumo ao terminal do Guadalupe. Nossas mochilas estavam realmente pesadas, dentro delas tinha de tudo. De panela a corda de varal, de colchão a remédio para dor de barriga. Porém, tínhamos de nos acostumar com todo esse peso pois elas seriam nossas companheiras pelos próximos 15 dias.
Pegamos o ônibus sentido Terminal de Quatro Barras as 5 hrs  da manha, lá chegando pegamos o Palmital e fomos até o posto. No caminho passamos por campina Grande do Sul e as belas paisagens já começavam a aparecer. Isso que mal saímos da cidade, imagine o que ainda nos esperava nas estradas desse Brasil!
Chegando ao posto, bem, não sabíamos por onde começar. Resolvemos primeiro dar uma boa olhada no ambiente. Depois, nos dividimos, fiquei cuidando das malas enquanto os meninos foram abordar os caminhoneiros.  Nesse meio tempo, aproveitei para pedir um papelão na lanchonete e fazer uma plaquinha daquelas que vemos nos filmes “carona para São Paulo” escrevi na mesma.
 Alguns minutos depois, os meninos voltam, sem nenhuma novidade. Um dos pontos principais quando se vai viajar de carona é desenvolver a calma. Eu, que sou das mais ansiosas e afobadas, sabia que ia ter um grande aprendizado nessa jornada. Não tínhamos noção de que horas, quando, com quem ou ainda pior se iriamos conseguir uma carona. Era esperar e acreditar.
Fomos abordando um aqui, outro ali, quando, da lanchonete, sai um sujeito com uma camiseta escrito nas costas “mas mantenha o respeito”, frase célebre das músicas do Planet Hemp. Brinquei com os meninos “ esse deve ser gente boa, vamos tentar falar com ele?”. Dito e feito, ele iria andar 30 km no sentido da saída para São Paulo e aceitou nos levar até lá sem problemas.
Segunda lição que aprendemos com a jornada das caronas, seja 15, 50 ou 100 km é sempre preferível ir em frente do que ficar parado. Logo, aceitamos a carona e partimos.
Agnaldo era um homem divertido e conversador. Evangélico, pai de duas meninas. Homem trabalhador e dedicado a sua família. Ele adorou a ideia da viajem e disse ser fácil conseguir carona até São Paulo. Isso nos animou bastante. Chegamos no posto, nos despedimos e continuamos nossa procura.
Caia uma chuvinha fina, então, fomos procurar abrigo em baixo de um toldo. Fizemos um revezamento, um ficava um pouco com as mochilas, os outros iam abordar os caminhoneiros e as pessoas que chegavam e saiam de carro.
Pedir carona em trio é uma tarefa um tanto quanto difícil. O melhor é ir em dupla, assim não tem lugar que os viajantes não caibam. Mas, mesmo com essa, dificuldade, continuamos confiantes.
A espera que já durava seus 20 minutos, e poderia durar mais quantos minutos tivessem que ser, terminou quando um Sérgio saiu da lanchonete do posto. Quando vimos que ele estava sozinho em seu carro, corri com Fábio e abordamos o sujeito. O carro já estava sendo ligado. Batemos no vidro, sorrimos. Ele abriu o vidro e nos ouviu pacientemente, nos olhando de cima a baixo. Logo, pensou e disse:
- Não estou indo para São Paulo capital, mas para São Bernardo, se não se importarem ...
- Claro que não nos importamos!- respondeu Fábio, sabendo que a cidade ficava próxima a capital.
Saimos correndo para pegar as malas, e entramos no carro. Não podíamos conseguir carona melhor.  Sérgio era pura simpatia. Gostava de falar, de ouvir, de compartilhar, de viajar e o melhor de ouvir um rock’n’roll. Boas conversas ao som de um bom e velho rock’n’roll, regado por belas paisagens, pra que melhor?
Sérgio queria saber os detalhes de nossa jornada. A cada palavra que falávamos, ele se mostrava mais animado. Apoiou nossa viajem e achou o máximo.
- O dinheiro mais bem gasto é com viajem, o pior é com multas - disse em tom de brincadeira. E completou dizendo - não costumo dar caronas não ein, mas fui com a cara de vocês, me parecem boas pessoas.
O simpático motorista vem sempre a Curitiba, pois tem família na cidade. Logo, conhecia a estrada muito bem. E não só o trajeto de Curitiba- São Paulo era conhecido do simpático motorista. Ele conhece muito bem o Brasil todo. Sérgio já frequentou diversos moto clubes, deste modo já viajou muito nas estradas desse pais. Dicas e boas histórias não faltaram.
Sérgio costumava fazer o trajeto até São Bernardo pelo litoral de São Paulo, pois segundo ele, a chegada por esse caminho é mais rápida. Nós, adoramos a ideia e aproveitamos para apreciar paisagens belíssimas pelo caminho. Passamos por Pedro de Toledo, cidade ecológica, Peruíbe, Praia Grande, São Vicente e diversas outras cidades, até chegar em São Bernardo.
Estradas lindas, com montanhas, bananais, serras com diversas árvores e florestas. Era beleza de perder de vista.
Depois de rodar algumas horas, que foram muito bem aproveitadas com bons papos e muitas informações, chegamos a São Bernardo. Agradecemos a hospitalidade e a confiança. Anotei o endereço do blog para ele e pedi para que acompanhasse nossa jornada.
Partimos rumo a segunda jornada do dia: encontrar a cidade no qual morava nosso segundo caroneiro, Felipe. A cidade de Jundiaí a 57,7 km de São Paulo capital.
O centro de São Bernardo é como qualquer centro de qualquer outra cidade do pais. Movimento demais, carros demais, buzinas demais, pessoas demais, lojas demais. Porém, para nós, aquilo era o maior barato. Procuramos um restaurante para almoçarmos. Escolhemos um prato feito, que no lugar da carne, para os vegetarianos, veio um bom e velho ovo frito. Depois de comermos aproveitamos para fazer contato com Felipe.
Ele nos deu as coordenadas por mensagem. Podiamos ir de ônibus de linha, pagando R$ 12,00, ou poderíamos pegar diversos metros e trens e pagar R$ 3,00 cada. Sem dúvidas escolhemos ir de metro, pois, além de termos tempo de sobra, pois demos sorte nas caronas e chegamos cedo, nunca tínhamos andado de metro (e também queríamos eco
nomizar, claro). Por indicação da cozinheira do restaurante o ônibus que ia até o terminal Tiete passava ali em frente mesmo. Ela já foi logo avisando:
-Esse ônibus demora. Mas demora mesmo. Quando você cansar de esperar, dai vai demorar mais uma meia hora.
Não deu outra! Só depois de quase uma hora de espera, conseguimos pegar o bendito ônibus. Fomos passeando pela cidade, com os olhos atentos as ruas e pontos turísticos. O movimento era grande, e o que mais esperar de São Paulo?
Chegando ao Tiete o movimento era ainda maior, chegava quase a ser caótico. Dias antes do Natal, cada qual procurava seu ônibus para melhor passar seu natal, seja ao lado da família que a muito não vê ou do amor que espera em algum canto desse pais.

Lá, tomamos o primeiro trem, depois trocamos mais algumas vezes para outros trens e metros. O caminho foi longo, chegamos em Jundiaí já noite. Porém, não ligávamos pra demora. Cada parada era uma nova descoberta. A lotação não nos incomodava, observávamos cada pessoa e como elas se portavam no coletivo.
Muitas pessoas dormiam, cansadas depois de mais um dia de trabalho. Uma japonesa lia um livro em japonês, era complicado só de olhar. Deve ser assim que se sentem os turistas que chegam em Curitiba e vão andar de biarticulado. O que é normal e cotidiano para uns é novidade para outros.
Depois de diversos trens e metros, chegamos na estação de Jundiaí, e logo ligamos para Felipe.
Quem seria o nosso companheiro de viagem pelos próximos dias? Conheciamos pouco, por rede social. Sem demora ele chegou, desceu do carro e com um sorriso se apresentou. Tanto nos quanto ele, não sabíamos muito bem como agir, mas aos poucos fomos nos acostumando um com os outros. Entramos no carro e Felipe já nos convidou para passar num rodízio de pizza no qual seus amigos o esperavam. Quer um convite melhor para quem está com muita fome?
Saldo do dia: saímos de Curitiba e chegamos em São Paulo gastando R$4,00 de pedágio, R$ 21,00 de almoço, R$ 9,00 de trem, R$ 13,50 de ônibus.

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