terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Primeiro contato com o Universo Paralello

Bom, o dia 27 de dezembro mal raiou e nós já estávamos de pé. Até por que nossa noite tinha sido péssima e não tínhamos conseguido dormir nada. Mas mesmo cansados, a ansiedade era grande e queríamos logo entrar no Universo Paralello.

Ao redor da praça onde dormimos era o local de chegada de todas as pessoas. As vans que vinham dos aeroportos, os carros que vinham de diversas cidades e os ônibus com as excursões. Todos desembarcavam ali. Depois de chegarem, as pessoas tinham que enfrentar um caminho, até então desconhecido, para chegar a portaria oficial do Festival. Para fazer esse caminho, era oferecido um serviço de pau de arara no valor de R$ 50,00 ida e volta.
Logo após acordamos, fomos acordar Felipe no carro. Juntos decidimos que tentaríamos  fazer esse caminho de carro e levar as coisas até a entrada, já que o peso era grande. Devido o fato de existir o serviço de pau de arara, achamos que o caminho devia ser muito grande, também por isso tentaríamos ir de carro até a entrada.
Chegamos na entrada do caminho desconhecido e conversamos com o segurança, explicando que tínhamos muitas malas para levar. O segurança ouviu nosso discurso, com muita educação, e liberou nossa entrada, mas deveríamos voltar em seguida o mais rápido possível. Uma grande diferença dos seguranças daqui de Curitiba para os da Bahia é que lá eles pelo menos escutam você. Se tiver um jeito de te ajudar, eles fazem isso. Mas se for não é não. Sempre com muita cordialidade.
Fomos de carro pelo tal caminho e lá a realidade era outra. Ele era relativamente curto, e muito bonito. Era muito fácil realizar seu trajeto, sendo desnecessária a ajuda do pau de arara. Chegando na entrada do Universo Paralello, descarregamos nossas bagagens. A fila já estava grande e não paravam de chegar pessoas. Ali, começamos a ter uma dimensão do que nos esperava. Eram muitas, muitas mesmo, pessoas já na porta. Isso que eram as primeiras horas, do primeiro dia em que a entrada estaria liberada.
Em cada canto um grupo diferente. Todos carregados de coisas. 20 mil pessoas de diversos estilos se misturavam. Crianças, famílias, casais, grupos de mulheres, homens de todas as idades, excursões de todos os lugares de mundo.
O sol já estava forte, começamos a trocar as blusas por biquínis, os homens foram tirando a camisa e cada um foi dando seu jeito de não passar muito calor. Lembrei que tinha visto no caminho para a entrada um pequeno riacho onde algumas pessoas tomavam banho. Dei a ideia de irmão até lá nos refrescar.
Nossa estada fora do festival seria imprevisível pois precisávamos encontrar nossa amiga Camila, que iria fazer projeções de luzes no festival. Ela colocará o nome Fábio na sua lista de convidados. Assim, só com sua presença poderíamos entrar ao festival.
O porém é que não tínhamos sinal de celular, desde o dia anterior. Por um momento cheguei a pensar que não conseguiríamos encontra-la. Mas Fábio dizia confiante:
-Iremos encontra-la, vai dar tudo certo.
E assim confiamos na nossa sorte.
Fomos então até o riacho nos refrescar e passar um tempo. O local era a alguns metros da entrada do festival. Existiam algumas árvores em volta do riacho. Outras pessoas se banhavam no local.
Procuramos uma sombra para esticarmos uma canga e deixarmos as bagagens.
A água do riacho era muito refrescante. O local era muito bonito. Ao lado uma casa pequena e simples. Uma família vendia marmitas aos viajantes que chegavam com fome. Nas sombras das árvores os malucos da estrada, viajantes livres, os chamados hippies, iam se encontrando, e trocando ideias. Um pai e seu filho, ambos nús, estavam lá brincando na água. Uma sintonia linda.
Aos poucos fomos conhecendo um grupo de três garotas que se banhavam também no rio.
Começamos a conversar. Ninguém perguntou o nome de ninguém, foi o puro desejo de conhecer a essência daqueles seres, sem saber suas identidades. Elas estavam a dois anos na estrada. Sorridentes se banharam no rio e após saíram e foram preparar uma fogueira para cozinharem.
Nós também estávamos com muita fome. Então, resolvemos comprar uma marmita da casa ao lado. Sentamos para comer em baixo da árvore. Após nosso almoço improvisado, cochilamos um pouco.
Ao final da tarde, retornamos ao festival. Não sabíamos ainda quando conseguiríamos entrar. Já estávamos preparados para rodar a noite. Foi quando por um milagre, o sinal do celular volta e chega uma mensagem de Camila informando que chegaria até o início do dia anterior. Mesmo sendo um prazo relativamente longo, ficamos muito de felizes de termos algum tipo de certeza quando a nossa entrada.
Procuramos um local para ficarmos. Estendemos uma rede nas arvores e esticamos nossas cangas. Por ali ficamos esperando. Conversamos com diversas pessoas, que vinham e partiam. Observávamos a movimentação de pessoas e íamos passando o tempo a curtir aquilo tudo. As horas iam passando. Um cochilava aqui, o outro ali. As pessoas não paravam de chegar. De noite, de madrugada, não tinha hora para a chegada.
Foi quando, perto do amanhecer ouvimos um grito:
- Fááááááábio!
Ficamos em silêncio, pensando que poderia ser a Camila. Novamente:
- Fááááááábio!
Fábio então respondeu:
- Camilaaaaaaaaaaa!
- Fááááááábio!- respondeu.
A felicidade foi imensa. Fábio levantou num pulo e foi ao encontro da voz na escuridão.
Em poucas horas, estaríamos enfim, dentro do Universo Paralello.

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